Menina do cabelo azul
por Marina Rodrigues
Seus olhos misteriosos, suas palavras
curtas, seus olhares ilusórios, sua boca puramente puta e seus cabelos azuis,
que escorrem pelos seus ombros nus, balançando, tremulando com o assobiar
baixinho do vento frio que percorre minha espinha, tentando-me. A menina de
cabelo azul que deixa meus dias mais coloridos. Tornou-se meu vício.
Depois mudou para o rosa, a leve
franja recém cortada tremulando com o passar do vento — eu o invejava por poder
tocar sem pudor em minha menina. Ela sempre alterando minha existência
monocromática. Eu era um mero espectador de seu espectro de cores.
Mas ela era como o rosa cálido que
pinta o céu no primeiro avistar da manhã, eu era o azul pálido que pinta o céu
no crepúsculo ao fim de tarde. Ela era uma artista! Transformando cada olhar em
uma obra-prima. Eu era um alienista, transformando cada podridão da sociedade
em dinheiro para o sistema capitalista. Como fazer o oposto me amar?
Desejo-a e anseio por cada um de seus
beijos, seus toques, sua pele nua, seus pêlos eriçados roçando pelo meu corpo.
Desejei-a mesmo sabendo o nosso fim, mesmo sabendo que o equilíbrio entre nós
não era uma opção, a balança estava desregulada, era o fim da minha
paixão.
Um dia ela entrou em minha vida e
disse:
— O problema é esse: você prefere ver a vida a teus pés e eu...eu
prefiro ver em tons pastéis.
--
0 comentários:
Postar um comentário