T r o u x a
Por Caroline Moreira
Ela não tinha um coração no peito, ele vivia saindo do lugar. Distribuía canções e versos para quem pudesse acreditar. Tão otimista que chegava a doer, quando nem sabia o que era dor. Ela não podia prever, mas não, não daria certo. Até ouvia os conselhos de amigos. Para de ser trouxa! Eles viam tudo o que ela não enxergava, a vida é toda roxa, cheia de hematoma e cheia de cicatriz. E, mesmo assim, ela distribuía abraços, e nunca era recompensada.
Eles só não sabiam que ela sempre dizia para si mesma: Para de ser trouxa. E que o seu corpo escondia pancadas feias e doloridas, vermelhas, azuis, esverdeadas. Um esboço inacabado cheio de rabiscos, riscos, mal vistos, encobertos pelo tecido da pele. Para de sair distribuindo abraço, porque não há recompensas, e você não é desinteressado, eu sei. Ela só queria em troca, esconder-se na própria toca, sem ninguém incomodar.
Mas a vida é toda roxa, cheia de hematoma e cheia de cicatriz. Machuca, infecciona, retira a casca que protege. Pelo simples prazer de sentir dor. Por ver beleza escondida na dor. Por falta de interesse. Em si mesma.
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